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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O que aconteceu com o desfralde?

E aí, um belo dia a sua filha diz para você que não quer fazer xixi na fralda e sim no penico. Você comemora - porque sua pequena cresceu, porque não vai mais precisar garimpar o melhor preço de fralda da cidade, porque não vai mais gastar dinheiro com xixi e coco (literalmente) - e leva a pequena ao penico.

Além disso, se mune de muita literatura para ajudar no processo.

No primeiro dia, corre tudo bem. Em casa e na escola, nenhum escape.
No segundo dia, dois escapes de xixi.
No terceiro dia, dois escapes de coco.

No quarto dia, você se espanta com a autonomia da pequena que sente a vontade apertar e vai sozinha no penico e só te chama para limpar.
No quinto dia, a maravilha se repete.
No sexto dia, escape de coco na escola. E aí a massa do bolo começa a desandar.

No sétimo dia, você percebe que o intervalo de 1h em 1h do xixi, vira 3h. E estranha. Não é possível que uma bexiga do tamanho de uma noz consiga acumular mais de 300ml de líquido.

Aí, você tenta retomar a rotina. Lembra do penico. Pergunta se não está com vontade. Leva todos os bichos de pelucia e bonecas para usar o penico, mas a criança não quer. Ela fica até brava com a insistência.

No oitavo dia, tudo se repete. Com um agravante de febre ao final do dia.

No nono dia, tudo igual ao oitavo.

No décimo dia, nada de febre, mas em um evento de final de ano você percebe que a pequena não faz xixi há 3 horas e se contorce toda. Tenta levar no banheiro e nada. E desde o escape do coco, nada de coco. E aquela barriguinha só cresce. E o desconforto também.

O que fazer? Ir embora para casa e recorrer à fralda e um supositório para aliviar o desconforto da prisão de ventre.

Xixi e cocô liberados. 

No dia seguinte, a pequena não quer a fralda. Você atende. Porém, vê que ela não quer fazer nem xixi nem cocô no penico. E vê que o sofrimento do dia anterior volta com força total.

Aí, gente, vem o pior. Sua filha reclama de dor da "pepeca". Nem banho quente ajuda a aliviar o desconforto. E vem choro, vem dor, e nada de xixi e cocô.

Numa dessas, você liga pro pediatra para pedir orientação e sai correndo com a filhota pro PS. 

Lá, depois de conseguir resolver o desconforto, oferece - por sugestão do médico - a fralda novamente. A pequena aceita.

E você, que começou o desfralde toda contente e orgulhosa, pensando que não é o bicho de 7 cabeças que todo mundo diz, se encontra tendo que rever todo o processo e tentando entender onde foi que o caldo entornou.

O "você" sou eu - mas poderia ser você. 

E o que eu entendi nesse processo todo é que mesmo sem querer, a gente acaba botando muita pressão para que os filhos superem determinadas fases. Por conforto, por orgulho, por vaidade, por comparação, e também por querer que eles tenham uma autonomia ou uma evolução que às vezes não estão prontos para ter.

Me doeu ontem ver o sofrimento da Oli. Me doeu ouvir ela dizer que "queria ser grande", mas que ainda é pequenininha. Uma criança de 2 anos e 8 meses, que sim, ainda é pequenininha.

E gente, isso é uma coisa tão boba... porque sim, eu sempre falo que ela está se tornando uma mocinha. Quando resolveu que queria usar calcinha, foi uma festa na família. Todo mundo celebrando que ela era menina grande. E isso, no mínimo, gerou alguma tensão para ela. 

O escape do cocô na escola, na minha percepção, foi quando a coisa desandou. Ela ficou com vergonha. E para não escapar mais, ela segurava. E perdeu a mão.

E a médica que nos atendeu deu o mesmo parecer. E o mais triste: disse que isso é muito comum, e que por sorte não evoluiu para uma cistite.

Acho que vale parar e refletir. 

Cada criança tem seu tempo. E cabe a nós - adultos - respeitar esse tempo. 

SEMPRE.