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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Por que a gente grita?

Geralmente, o grito vem como o anúncio de que algo não vai bem. A gente se descontrola e ele escapa. É muito raro encontrar alguém que nunca tenha gritado.

Pois bem, eu grito. E ultimamente eu vinha gritando bastante. Principalmente quando chegava o fim do dia... E em dias difíceis o descontrole vinha bem antes. O pior? Eu estava gritando com a minha filha, um bebê de 1 ano e meio.

E sem perceber.

E numa dessas situações, tive minha atenção chamada. O marido tinha chegado mais cedo em casa, num daqueles dias difíceis, no qual tudo estava dando errado, e em menos de 1 hora me ouviu gritar 3 vezes com a Oli. Na hora do jantar, na hora do banho e na hora que fui colocar seu pijama.

E nesse mesmo dia, eu lembro de ter gritado com ela, quando ela estava subindo a escada sem minha autorização, sozinha e se sentindo toda independente, enquanto eu tentava falar ao telefone. E o grito foi um NÃO tão sonoro que eu lembro de ver o seu corpinho tremer antes dela se dissolver em um choro inconsolável. Ela se assustou e me dói só de lembrar.

Não vou nem me defender e dizer que naquele dia ela estava terrível, porque isso não é defesa. Sim, ela estava terrível. Sim, como todos os dias ela vinha testando todos os limites – meus e dela. E sim, ela tinha gritado horrores naquele dia a cada represália que sofria.

A questão é: quanto desse comportamento agressivo e desafiador dela não tinha relação direta à forma com a qual eu estava lidando com ela? Se em tudo ela me imita, porque será que ela vinha se mostrando cada vez mais indócil?

Quando o marido chamou minha atenção – não na frente dela – minha primeira reação foi me defender e acusar. Disse que ele também gritava. Que ele também perdia a paciência. E que aquele dia tinha sido muito difícil. E que não, eu não gritava, apenas falava firme com ela. E naquela noite, eu não dormi direito. Repassei inúmeras cenas de puro descontrole meu. E resolvi prestar mais atenção.

Parei de gritar. Toda vez que sinto o grito subindo a garganta, respiro fundo e falo com ela de forma firme, porém sem me exaltar. Não é fácil e preciso estar sempre atenta. Sendo eu uma pessoa de personalidade forte, e às vezes um tanto agressiva, confesso que isso é uma luta diária para mim.

Isso faz 10 dias. O resultado é uma criança muito mais doce, comportada e amorosa. Ela ainda grita, porém em situações de puro estresse, como quando o sono atinge o pico, quando algo que ela gostaria muito de fazer não é permitido, ou quando estamos no transito parado, sem saída.

Nessas situações, eu passei a assumir a seguinte postura: Me abaixo à altura dela, olho em seus olhos e digo calma, porém firmemente que não gostamos de gritos. Digo que eu não grito com ela, e que da mesma forma ela não pode gritar comigo. E que sinto muito que ela esteja se sentindo mal, e que logo mais passa.

A gente acha que eles não entendem, né? Porém, digo que essa coisa funciona. Ela pode até continuar emburrada, mas o grito cessa.

E no fim das contas, os dias tem sido muito menos estressantes, pois as coisas se resolvem de maneira mais tranquila.

Deixar de gritar não me tornou uma pessoa mais permissiva. Eu continuo com uma postura bem firme e estabelecendo limites para a Oli, afinal, ela precisa de mim para isso. Porém, ao não gritar, sinto que ela passou a me ouvir muito mais. E assim, consigo guia-la muito melhor.


A gente fica tão preocupada com perigos que os pequenos correm, se estão comendo e dormindo direito, se estão saudáveis e às vezes esquece que dar bons exemplos também ajuda a mantê-los sãos e salvos. Afinal, muito daquilo que eles serão no futuro vem dos exemplos que a gente dá em casa. E cada experiência conta na formação deles. 

E posso dizer que essa foi provavelmente a coisa mais valiosa que aprendi, na marra, este ano. E lembrando que ainda tem muito mais por vir...