Ou também – a semana em que eu me senti um cocô todos os
dias. E pelo que tenho acompanhado na minha timeline, tenho tantos amigos e
conhecidos na mesma situação, que até me senti um pouco melhor.
Sim, se a primeira semana parecia ter sido uma adaptação
gradual e relativamente tranquila, a segunda semana foi terrível.
Para dar o tom, começava pouco antes da hora do almoço o
novo mantra “Oli não qué í pa icóla”, que deve ter sido ecoado mais de 100
vezes até a chegada no portão.
A segunda-feira já estava no radar como um dia tipicamente
difícil, uma vez que o final de semana foi uma diversão sem fim, ao lado de gente
querida. Porém, nada prepara a gente para o choro desesperado, quase que uma
súplica para não ser deixada naquele lugar “estranho” com gente “estranha”,
acompanhada de uma tentativa desesperada de nos escalar a qualquer custo.
Muito prazer, essa foi a minha segunda-feira da segunda
semana de adaptação.
E com o coração em pedaços, segui firme, apoiada pela doçura
absolutamente competente da professora. Ai, entra uma questão muito importante:
um profissional preparado faz maravilhas. A professora da Oli é uma querida. Ela
é um ser iluminado que consegue acalmar e dar segurança tanto à criança em
prantos quanto à mãe em frangalhos.
E lá foi a Oli, de mãos dadas com ela, chorando mesmo. Lá dentro ainda demorou
para se acalmar. E eu, sentada da recepção, com meu notebook no colo, tentando
me manter ocupada. Passados 45 minutos me levaram para ver que estava tudo em
ordem. E assim continuou.
A saída foi aquela festinha, com excessos de beijos e
abraços. O que apaziguou meu coração. Fim do dia 1, da semana 2.
E no dia seguinte o choro se repetiu. E no outro dia também.
E eu ali, tentando ser forte, sorrindo, dizendo que eu estaria ali na hora que
ela saísse pelo portão, para mostrar para ela que estava tudo bem. Eis que
todos começam a lançar involuntários olhares piedosos para a pitica,
acompanhados de inoportunos “tadinha” ou “que dó”. Até aí, eu ia firme. Fingia
que não era com a gente. Abraçava a Oli, dava um beijo, me despedia e a
entregava à professora.
Eis que alguém resolve soltar a delicada pergunta: “mas você
vai deixar ela entrar assim mesmo, chorando?”
Gente, eu entendo que ninguém faz por mal. Que ver criança
chorando é de dar dó. No entanto, entendam que nessas situações, a mãe talvez
precise de muito mais apoio do que a própria criança.
E foi essa pergunta inofensiva que me fez buscar a
orientação da escola para saber se eu estava fazendo alguma coisa errada. Contei
do nosso ritual da manhã, com atividades tranquilas, da historinha antes da
soneca, do almoço – momento no qual eu estava tentando tirar o habito de criar
distração para facilitar o processo, da troca de roupa, escolha do lanche, ida
para a escola... E estava tudo ok. Exceto por uma coisa: não era hora de criar
mais novidades. Ou seja, remover as distrações do almoço nesta fase não fazia
sentido.
Além disso, recebi como conselho evitar falar
recorrentemente sobre a escola. Devia mencionar a escola e ver como ela reagia.
Se fosse negativamente, mudaria o assunto. Isso porque as crianças são espertas
e logo percebem o que nos importa ou aflige e passam a testar os limites
justamente nesses campos.
Todo dia quando eu ia buscar a Oli, na volta de carro perguntava
se tinha sido legal na escola, perguntava de alguma atividade que eu sabia que
tinha acontecido e a resposta era sempre a mesma: “Oli chorou na icola. Oli
queria colinho da mamãe”. Ai eu mudava o assunto, mesmo com coração apertado.
E todas as manhãs o mantra “Oli não qué í pa icóla” era
repetido exaustivamente.
E eu fui seguindo a orientação da escola de tentar criar uma
atmosfera agradável em torno da escola. Ela podia escolher qual brinquedo iria
com ela, a gente ia cantando as músicas que ela gostava no carro e na porta da escola,
mesmo sob o insistente mantra, eu procurava criar uma distração.
No último dia, sexta-feira, o choro finalmente cessou. E eu
já estava exausta da semana. Porque acompanhar uma adaptação escolar com uma
criança em prantos deixa a gente acabada, emocional, psicológica e fisicamente.
Além disso, eu já estava pensando que segunda-feira começaria tudo de novo...
Minha gente, essa coisa de antecipar sofrimento é de lascar,
viu?!
E sabe, se por um segundo eu achasse que ela realmente
estava tendo problemas com a escola, não pensaria duas vezes antes de entender
melhor ou mesmo encerrar o processo. Não era o caso. Todas as vezes que ia
espiar (sim, porque tem que ter uma vantagem nesse chá de cadeira da
adaptação), eu a via participando. Os feedbacks da professora e das assistentes
era positivo. E a Oli mostrou uma super evolução em casa, mesmo em tão pouco
tempo. Então, a rejeição em si era pela nova rotina. Pela privação de estar em
casa ou no clube, ou fazendo qualquer atividade comigo.
Porém, de todas as experiências, a gente tira algum
aprendizado. E há alguns pontos que eu identifiquei como geradores desse stress
na adaptação da Oli:
- Ela é muito grudada comigo. Sim, eu sempre cuidei dela
integralmente. Por conta disso, recomendo que quem vive a mesma situação que eu
procure, se possível, criar oportunidades para a criança ficar sob os cuidados
de outras pessoas randomicamente – tios, avós, padrinhos, amigos ou mesmo
ajudantes do lar.
- A Oli sempre brincou muito comigo. Sim, ela sabe brincar
sozinha numa boa, mas geralmente me solicita muito. Por isso, sugiro levar a
criança em locais onde ela possa interagir bastante com outras crianças. E
tente acompanhar de longe, para que ela possa se virar um pouco. (eu ainda me
policio nisso. Faço o estilo mãe-helicoptero-light que fica muito perto para acompanhar)
- A Oli sempre foi o centro das atenções nas famílias, e
tudo é feito à sua vontade. Isso é normal. Ela é fofinha, é pequena e é
menininha. Na escola, ela divide a atenção com outras crianças e tem que seguir
as regras de lá. Então, vale tentar uma conversa com a família para tentar
minimizar esse pronto atendimento a todas as vontades. Quanto mais mimada for a
criança, mais dificuldade ela vai ter de se encaixar em um sistema coletivo.
- Evite stress e situações desagradáveis perto do momento de
ir à escola. Aqui, o almoço sempre é meio conturbado. A Oli demora para comer,
faz a maior bagunça, e não quer saber de carnes em geral. E eu quero que ela
coma bem para crescer e se desenvolver. Então a gente acaba tento alguns
tropeços nesse momento. E notei: manhã estressante, entrada na escola terrível.
Ai, passei a deixar ela comendo no tempo dela. Não quer, não come. E mando um
lanche reforçado e no jantar supro tudo o que faltou no almoço. Sim, não é o
ideal. E tem dias que ela come super bem e outros que come 1/5 do que deveria.
Mas vamos indo.
E se fazendo tudo o que você acha certo, ainda estiver difícil
a adaptação, não hesite em procurar a ajuda da escola. A direção, orientação e
os professores estão lá para isso.
Acima de tudo, confie em você e encha os pequenos de amor e
carinho. Porque só assim é possível passar segurança e criar o ambiente sadio
que eles tanto precisam.
Agora, já estamos na 4ª semana de adaptação. Nessas ultimas semanas está sendo feita uma nova transição com a Oli, pois ela se apegou demais à professora e precisa se ligar às assistentes e aos coleguinhas também. É um trabalho delicado e gradual, no qual estamos todos empenhados.
Posso dizer: as
coisas ficam mais fáceis com o tempo. Alguns dias são tranquilos, e outros não.
E sempre vale lembrar: é uma fase. E logo passa.
Então, fique firme, fique bem e confie em você.